MotoGP, 2021: A entrevista a Miguel Oliveira, Parte 2

Por a 5 Julho 2021 11:59

Nesta segunda metade da entrevista concedida recentemente, Miguel falou mais tecnicamente, abordando o desenvolvimento da KTM, passado e futuro

“A nível de chassis, mantivemos uma escolha errada, mas seguimos a minha sensação, que ao final do dia é aquilo que conta mais!”

“Há sempre um momento que chegamos ao fim de temporada em que fazemos um balanço e pensamos, se não fosse esta corrida aqui ou aquele erro acolá, o que poderia ter sido. Para mim isso ficou para trás, serve apenas de aprendizagem e para nos motivar e lembrar-nos que um dia podemos estar em baixo e outro dia podemos estar em cima e nunca desistimos do nosso objetivo!”

“O que importa agora é concentrar-me nas corridas que faltam para o resto da temporada.”

“Hoje em dia, em primeiro lugar, precisamos partir da premissa que nenhuma moto é má e todas as marcas que alinham na grelha de MotoGP são muito competitivas…”

“Temos 22 motos, das quais 20 são motos de fábrica e as outras duas são motos do ano de 2019 ou 2020, portanto, tendo esse suporte técnico, essa igualdade torna-se difícil perceber quais são os nossos pontos fortes e os nossos pontos menos bons.”

Aquilo que nós temos que melhorar no futuro é, sem dúvida alguma, mantendo as características boas, podermos preparar bem a moto para comportamento em curva, para conseguir ter uma utilização em que temos aderência no asfalto, e assim fazermos valer as boas características do nosso motor V4… isso é importante mantermos!”

“Aquilo que eu acho que gostaríamos de ganhar é um pouco de agilidade quando temos muito peso na frente da moto, nomeadamente no princípio da corrida com o depósito cheio, como foi o último caso deste última pista em Assen, onde as motos com motor quatro em linha são muito mais naturais nas mudanças de direção e muito mais rápidas!”

“Pistas como o Qatar também, onde nós sofremos muito nas mudanças de direção ao travar, é aonde nós temos que nos focar no momento.”

“Assen foi a prova disso, acabámos por ser a segunda moto com motor V4 atrás da Ducati e é o que nós tentamos agora ter sempre como base e visão futura para construirmos a moto do ano que vem.”

“Não é fácil, porque neste momento o compromisso de estragar algo que esteja já bom é difícil de encontrar!”

“Tudo o resto são pequenos detalhes que vamos otimizando: Estratégias eletrónica, mapas de injeção, o próprio corpo de injeção, a forma como utilizamos a deslocação de ar que entra pela moto…”

“A aerodinâmica, que é uma área que tem sofrido muita atenção e investimento e aí sim, ainda há algum trabalho para fazer!”

“Este ano, tivemos de nos adaptar a um novo pneu assimétrico Michelin que existe desde as primeiras corridas. A nossa moto neste momento tem uma baliza para trabalhar com pneus de compostos dianteiros muito pequena, por isso tivemos de transferir peso para a parte dianteira da mota, gerando calor suficiente para que o pneu funcionasse.”

“Neste momento no MotoGP, os pneus são dos componentes mais importantes que temos de acertar, logo é muito difícil encontrar aquela linha de equilíbrio para podermos trabalhar com todos os compostos que temos da Michelin.”

“Também temos tido a sorte do nosso lado, porque nas últimas corridas, os compostos não são assimétricos e estamos bastante à vontade para podermos trabalhar com esses compostos.”

“Neste momento, e é uma coisa que poucas pessoas entendem, os pneus são dos componentes mais importantes que nós precisamos de acertar logo, e é muito difícil encontrar aquela linha de equilíbrio para podemos trabalhar com todos os compostos que temos à disposição.”

“Por vezes falamos de utilizar um médio ou macio, mas não quer dizer necessariamente que seja um pneu mais macio ou mais duro e isso torna complicado passar essa mensagem cá para fora.”

“A Michelin é um parceiro técnico excelente da MotoGP, tem vários anos de experiência nas duas rodas, e não tem problemas a nível de segurança isso tem sido excelente!”

“Da nossa parte é um investimento técnico que nós fazemos durante todo o fim-de-semana para recolher informação dos pneus e saber dos vários parâmetros, que é essencial para fazer com que as coisas funcionem bem.”

“É uma adaptação técnica que eu consegui nalgumas corridas, como foi o caso de Barcelona, e eu consegui jogar de uma forma mais arriscada por entender bem até onde posso levar a minha moto… Isso dá um bocadinho de vantagem face aos outros pilotos da KTM, que nalguns momentos podiam não estar a entender o conjunto tão bem!”

“As últimas quatro pistas que tivemos foram as pistas em que tivemos piores resultados no passado, Mugello e Assen, onde nem sequer consegui entrar dentro do topo 10, e desta vez fui diretamente para a Q2 e fizemos os resultados que sabemos!”

“Em termos dos circuitos, aqueles em que vamos estar menos à vontade são os em que competimos lá pela última vez com a moto de 2020, e não com a que temos atualmente, portanto pistas como o Texas ou a Tailândia, circuitos que criam alguma dificuldade com o desconhecimento por não termos experiência com esta nossa nova moto!”

“Aqueles em que teremos vantagem, à partida, são circuitos que são, de alguma forma, um bocadinho mais amigáveis para a nossa moto e mesmo para o meu estilo de condução.”

O chassis, como já disse, foi aquela coisa que nós conseguimos equilibrar na longa duração e foi mais uma coisa de sensação, de que pudesse ser um bocadinho mais amigável para a parte traseira da mota, porque a dianteira, o foco do fabrico deste chassis não foi bem esse…”

“Portanto, conseguimos ganhar um bocadinho mais de aderência, de mais estabilidade a sair de curvas rápidas, foi o que eu notei.

A equipa da Tech3 também acreditava que o chassis teria sido uma peça fundamental para mudar, mas quando os pilotos deles o experimentaram não notaram grandes diferenças…”

“Portanto, a nível de chassis, mantivemos uma escolha errada, mas seguimos um bocado mais a minha sensação, que ao final do dia é aquilo que conta mais!”

Em relação à categoria de Moto3, é uma realidade dura, mas é minha opinião!”

que o nível agora não é muito alto, porque tivemos grandes pilotos a passarem pela categoria, que se destacaram, vêm-me à cabeça por exemplo o Jorge Martin ou o Joan Mir que são hoje em dia pilotos de MotoGP!”

“É muito fácil aproveitar os cones de  ar que bem aproveitados dão uma vantagem a nível de tempo que é absurda, ou seja, há muitos piloto que conseguem levar as motos ao limite. “

“Mas é como está a categoria, na minha opinião, uma possível solução seria aumentar a largura do pneu e através de um incremento de potência fazer uma alteração para que aumente um bocadinho a dificuldade técnica de levar uma Moto3 ao limite!”

“Assim, poderiam diferenciar-se os pilotos um pouco mais na corrida e aquele que percebesse melhor como acelerar, como travar e curvar, podia sobressair  bocadinho, mas eu acho que era com o intuito de conseguir apenas separar os pilotos.”

Agora, os grupos são muito grandes, as motos são muito leves, e há uma grande agressividade entre todos os pilotos, que leva depois a quedas e a situações desagradáveis…Isso para mim seria uma das opções!”

“O Fábio Quartararo, para mim, é um piloto muito rápido, que está numa forma incrível, e que tem demonstrado muita rapidez, mas eu acredito que nós temos condições de batalhar com ele…”

“No que diz respeito a expectativas, é a resposta do costume. Tentamos sempre o melhor, acreditamos em nós, e no nosso trabalho.. depois, temos que concretizar a vontade, que passa pelos resultados que somos capazes de fazer… mas não estamos sozinhos, temos a concorrência e temos circunstâncias que variam!”

“Há fatores que podem alterar o resultado e portanto a nossa função é andarmos melhor em pista e conseguimos analisar bem onde nos colocar, quando e como!”

“Acho que todas as corridas são importantes, sobretudo quando são corridas em fins-de-semana seguidos, como estas duas na Áustria que vamos ter a seguir.

“É sempre importante pontuar ao máximo nessas corridas, onde temos pistas boas, que nos favorecem, que foi o caso do ano anterior, onde venci a minha primeira corrida.”

“As últimas quatro pistas que tivemos eram muitos desfavoráveis para nós a nível de resultados, foram as pistas que tivemos piores resultados no passado, Mugello e Assen, onde nem sequer consegui entrar dentro do topo 10, e desta vez fui diretamente para a Q2 e fizemos os resultados que sabemos!”

“No que diz respeito ao futuro, é preciso sempre ter em atenção que já chegámos a corridas em que julgávamos que íamos ser competitivos e não fomos, portanto há uma linha muito ténue em termos de estar confiantes e não estar confiantes demasiado para deixar escapar algo que nos possa ajudar!”

“Acredito que a segunda metade vai ser um pouco mais favorável para nós, mas isso não se traduz necessariamente em ótimos resultados!”

Cada ano é uma situação particular e temos sempre de fazer melhor a cada corrida, mas não vamos para uma corrida que ganhámos o ano passado com metas irrealísticas, mantemos sempre a humildade que nos é reconhecida e sabermos que os nossos adversários são sempre muito fortes e temos que fazer o nosso trabalho para estar à altura…”

“O essencial é acreditar até ao final! Quando se ganha é fácil acreditar, quando não se ganha e estamos nos momentos difíceis é que é o verdadeiro teste!”

“Cada vez mais se tem visto que é preponderante a competência psicológica no desporto, que nos ajuda a passar aquelas limitações todas que possam surgir!”

“Neste momento, na alta competição, nada é garantido, estamos numa era em que tudo se vive mais rápido e num momento passa-se de tudo muito bom para tudo muito mau e temos continuar a trabalhar para andar na direção justa!”

“Eu estou rodeado por uma equipa excelente, que acredita em mim, é comunicativa, e isso também dá muita força e ajuda-me muito!”

“No foco daquilo que é objetivo maior, há duas coisas preponderantes: uma, é  chegar ao final e outra depois, chegar ao final com mais pontos que todos os outros!”

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