O caso das válvulas da Yamaha é comentado pelo lendário técnico da Yamaha Petronas SRT
“Queimámos mais velas a trabalhar noites do que gasolina”
Ramon Forcada

A controvérsia sobre as válvulas ilegais da Yamaha também atingiu a equipa Petronas durante a temporada de MotoGP de 2020.
Para técnicos e mecânicos, isso resultou em trabalho adicional, “ansiedade de desempenho” dos motores, e aumento do trabalho a horas tardias.
No final, perderam pontos e a hipótese de levar o título de construtores.
A equipa técnica de Fabio Quartararo e Franco Morbidelli teve de lidar com cuidado com os poucos motores disponíveis.
Ramon Forcada abordou o tema numa conversa recente com o conhecido jornalista de Barcelona Dennis Noyes.

A competência do engenheiro-chefe de Franco Morbidelli reside em prolongar a vida dos motores.
Assim, conseguiu evitar o uso de uma sexta unidade, como aconteceu com Maverick Viñales, que como penalidade foi forçado a arrancar do pitlane em Valência.
“Quando os motores partiram na primeira corrida, chegaram os motores da segunda corrida, que eram diferentes. E partimos um desses motores, que teoricamente eram novos. Houve um pouco de pânico, porque só nos restavam dois para o resto da temporada.”
O engenheiro-chefe de Franco Morbidelli teve de gerir os dois motores para os restantes 12 Grandes Prémios! Um empreendimento quase titânico para qualquer boxe de MotoGP.
“Cuidei dos motores como se fossem crianças. Tinhas de desmontar muitas coisas para verificar tudo. Há muitas maneiras de verificar os motores sem os abrir, sem quebrar os selos. A Yamaha não quebrou nenhum selo.”
O congelamento do desenvolvimento motor, de acordo com os regulamentos de MotoGP, obrigou-nos a prosseguir com muito cuidado e com técnicas sofisticadas.
“É preciso usar dispositivos óticos, mini-câmaras para passar pelas condutas de escape e pelos buracos das velas, para ver o que está lá dentro, mudando o óleo com muita frequência. Acabou por custar muito dinheiro à Petronas, porque usávamos mais velas a trabalhar tarde do que gasolina”, gracejou Forcada.
Dizia-se que a potência dos motores tinha sido reduzida para prolongar o seu tempo de vida, o qu eé negado pelo técnico catalão.
“Não tivemos nenhuma queda na performance até à última corrida… Não baixámos o limitador de velocidade, para quaisquer sessões de treino ou corridas. Tudo o que foi dito sobre a redução do regime não é verdade, nós não os baixamos”.
Foi é tomada outra precaução para evitar qualquer rutura no motor de quatro cilindros em linha.
“O “Soft Limiter” impede-os de atingir o corte de ignição, mas reduz o binário do motor. A única coisa que fizemos foi tentar, através das relações de transmissão, usar sempre o “Soft Limiter” para não rodar excessivamente o motor, porque não é mau, mas também não é bom. Se estivermos numa situação crítica, tentar não ir além do “Soft Limiter” ajuda. Era um trabalho para fazer em todas as sessões de treino, estudar as mudanças de velocidade a cada curva, ver quantas voltas estávamos a dar. Esse é o trabalho que tem sido feito”, concluiu Forcada, “mas o regime máximo não foi reduzido durante o ano”.