Algum dia Joan Barreda vai vencer o Dakar?

Por a 18 Janeiro 2018 18:32

Esta é seguramente a pergunta do milhão de dólares e à qual ninguém, nem o próprio Joan Barreda Bort, saberá responder. Quem acompanha com um pouco mais de intensidade a história do desporto, em diversas modalidades, confronta-se rapidamente com malapatas de clubes ou atletas com certas competições.

Basta relembrar o antigo ciclista Raymond Poulidor, que por três vezes foi segundo e cinco vezes terceiro na Volta a França (competição que nunca venceu) ou por exemplo o Atlético Madrid, clube de futebol, que nas três finais que já jogou da Taça dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões perdeu todas e de forma bem dramática.

Se quisermos pegar num exemplo do nosso ‘quintal’, e em concreto do Dakar, encontramos de forma célere um compatriota de Joan Barreda Bort que nunca cantou vitória no maior evento de todo-o-terreno do mundo. Falamos de Jordi Arcarons que bateu sempre na trave, pois em 17 presenças no Dakar por quatro vezes foi segundo e duas vezes terceiro, resultados obtidos essencialmente durante a década de 90.

Com o passar dos anos é precisamente num ‘Jordi Arcarons 2.0’ que Joan Barreda Bort está a tornar-se apesar de, até ao momento, nunca ter sido segundo no Dakar por incrível que pareça. O melhor resultado em oito presenças é o quinto lugar de 2017.

Porém parece que a velha máxima de que a história repete-se é um facto. Eterno candidato à vitória do Dakar, o espanhol tal como Arcarons já coleccionou muitas vitórias em etapas, mas falta alcançar o nirvana da questão. Seja por problemas mecânicos, erros de navegação, quedas, ou até mesmo penalizações impostas à sua equipa, como foi o caso de 2017, de tudo um pouco já aconteceu ao piloto que tem atualmente 34 anos.

Quem não se lembra da imagem dramática de Joan Barreda junto do nosso Paulo Gonçalves, em 2015, quando liderava a corrida e viu a sua Honda CRF450 Rally calar-se em pleno dia de tempestade no sublime Salar de Uyuni (Bolívia), enquanto a KTM do rival Marc Coma foi abaixo, mas miraculosamente ganhou vida e o espanhol seguiu caminho para a vitória final.

Ou até mesmo, este ano, na célebre 10ª etapa, que ficou marcada pelo erro grosseiro de navegação de vários pilotos na procura do último waypoint do dia. Quem lá estava no meio da embrulhada? Resposta: Barreda, pois claro.

Esta é marca de água que distingue os ‘outros’ de Joan Barreda Bort. Quando o infortúnio bate à porta o espanhol cai. É aquilo que os nossos amigos do outro lado do Atlântico apelidam de ‘pé frio’.

Pode não ser à primeira, mas mais à frente chega o juízo final. Mesmo que o piloto da Honda venha a fazer das tripas coração, tal como aconteceu neste último Dakar. Joan manteve-se heroicamente em competição até ao dia de ontem ja após uma queda, na sétima etapa, que deixou muito mal-tratado o joelho esquerdo. Apesar deste enredo, no momento do abandono o piloto valenciano era segundo da classificação geral, posição em que partiu para a etapa.

Bem se pode dizer que o Dakar está a dever algo a um dos melhores pilotos de grandes maratonas dos últimos largos anos. Também está a dever a mais pilotos dirão outros e com a sua razão. No entanto a verdade é que este gigante criado pelo malogrado Thierry Sabine, nos idos do outro milénio, é implacável e nunca, ao longo da sua rica história, esteve preocupado com justiça ou injustiça.

Até porque o sonho como disse, em tempos, o criador da obra não está em vencer, pois esse mesmo sonho fica na cabeça daqueles que não podem estar à partida. Para aqueles que cometem a ousadia de ir à luta o Dakar é um desafio como dizia Sabine na sua mais conhecida citação.

Qual a solução para virar o bico ao prego? Como diz Diego Simeone, o timoneiro do Atlético Madrid e que já perdeu duas finais da Liga dos Campeões com os ‘colchoneros’, o caminho passa por continuar a insistir, insistir e insistir até que chegue o tão desejado sucesso.

Foi isso que fez outro espanhol no caso Nani Roma. À nona participação, no Dakar, finalmente chegou ao triunfo nas duas rodas. Estávamos então em 2004 e para trás ficaram sete abandonos nas oito presenças anteriores. No ano a seguir Roma mudou-se para os autos, onde em 2014 abriu o champanhe da vitória.

Regressando ao outro lado da medalha também Raymond Poulidor e Jordi Arcarons insistiram e muito à sua maneira, mas foram derrotados pela prova e o grande juiz de tudo na vida: o tempo.

Como dizem os nossos vizinhos do lado: ‘No creo en brujas pero que las hay, las hay!’

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Jarno Saarinen
Jarno Saarinen
6 anos atrás

Creio que o problema de Barreda é diferente do de Arcarons, já que enquanto o segundo era um piloto de raros erros, Barreda é um piloto que erra muito na navegação, e depois é obrigado a correr riscos normalmente com consequências.

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