Acompanhámos o dia de um dos mais promissores pilotos nacionais, mesmo antes da sua partida para mais um Dakar. Vejam a entrevista completa no YouTube aqui

São 6:30 da manhã algures na Região Oeste, noite cerrada num dia chuvoso de dezembro. Bruno Santos, empresário, industrial, marido, pai e mais recentemente, piloto de moto do Dakar, acaba de se levantar.
Uma pequena deslocação de carro leva-o a um ginásio local onde na companhia de alguns amigos começa a sua rotina diária com cerca de uma hora de exercícios, sob o olhar atento do PT Hernani, que coordena a atividade do dia.
É um cenário que o piloto de 38 anos repete 3 vezes por semana quando não há corridas, e todos os dias agora, a preparar-se para o seu 3º Dakar…

Depois, é hora de regressar a casa para um duche rápido, seguido de um pequeno almoço de iogurte com proteínas tomado de pé, e já começam a chegar os telefonemas de clientes – de Espanha, que é uma hora mais tarde, claro, e a que Bruno responde em castelhano fluente.
De novo no carro e mais uma pequena deslocação para ‘picar o ponto’ – por assim dizer, já que o patrão é ele! – na fábrica que emprega 130 pessoas a fazer embalagens para os produtores locais de fruta- ou não estivéssemos no centro do pomar de Portugal.
De resto, um dos clientes, Patrícia Pilar, é o seu patrocinador principal, “devido às sinergias entre ambos… o nome é sobejamente conhecido e a relação quase que aconteceu espontaneamente, tem a ver com a terra e com o que ambos fazemos, exportando o melhor de Portugal!”

Quisemos saber como difere a sua preparação, agora que sabe o que o espera a 5.400 Km de distância. “Na moto, que este ano melhorou muito em relação à do ano passado, com menos peso e mais potência, estamos sempre a tentar melhorar a suspensão, a descobrir maneiras de a fazer reagir melhor aos acidentes do terreno… pode sempre estar melhor! Em termos da condução, o mais difícil é coordenar a condução sobre pedras e obstáculos mantendo um olho no roadbook para não cometer erros!”
“Depois, em muitas etapas partimos detrás por algum pequeno problema e não tarda muito até estarmos a ultrapassar pilotos mais lentos… aí, o difícil é equilibrar a tentação de os passar de uma arrochada ou aguentar atrás, porque por vezes, cometem erros de navegação e arrastam-te contigo!”
“Para dar um exemplo das dificuldades encontradas, o ano passado distraí-me por um segundo com o roadbook, voei por cima de uma rocha que não vi, e caí a alta velocidade… parti o apoio do guiador num sítio onde normalmente não parte, e tive de o reparar com arames como pude… Lá segui, mas pouco depois, a moto começou a falhar… levei imenso tempo a perceber que tinha uma racha no depósito lateral, por onde pó microscópico do deserto chegara aos injetores… como era impossível reparar, tive de continuar só com o depósito traseiro, que, claro, não tem autonomia para acabar uma etapa…tive de parar periodicamente para bombear gasolina dum tanque para o outro e cheguei ao bivoauc às 3:00 da manhã!”

Uma coisa que nunca mais repetirias, com a experiência de agora?
“Hmm… boa pergunta! No meu primeiro Dakar, tinha ouvido falar do frio que se passa no deserto quando chegas tarde ao fim da etapa… tinha levado uns cremes que te aquecem, que me ajudaram porque na altura tinha partido três costelas, mas além de os pôr no corpo, achei boa ideia colocá-los nos antebraços… só que aqueceram de tal maneira que fizeram o efeito contrário, acabei com os braços ainda mais doridos pelo excesso de calor!”
O que te passa pela cabeça nas longas ligações ao fim de 6 horas a andar de moto?
“Este ano, temos etapas de 900 Km com ligações de 600 Km, o que seria como ir de Lisboa a Madrid de moto… e por vezes, no deserto, não vês ninguém durante horas… nos primeiros dias quando pensas no muito que falta percorrer, é desmoralizante, mas para o fim, quando está a correr bem a ultrapassar gente, já querias mais uns Km, para poder subir mais posições!”
Pelo que sabes do percurso e da concorrência, o que seria para ti um bom lugar?
“Tipicamente, o Dakar tem um desgaste entre os pilotos de moto de cerca de 50%, ou seja, só metade acaba… mas considerando que, entre todas as marcas, há para aí uns 15 ou 16 pilotos de fábrica, qualquer coisa nos primeiros 20 seria um bom resultado!”
Vejam a entrevista completa com Bruno Santos no You Tube, e um pouco mais tarde no Canal A Bola TV, na edição de 7 de Janeiro.















