Crónica: Francisco Pita, verdade factual do Dakar 2017

Por a 18 Janeiro 2017 15:04

Caiu o pano sobre o Dakar 2017 e muitos rios de tinta galgarão as pontes da polémica. O ano passado dissemos que a Peugeot e Peterhansel deveriam ter sido penalizados por terem reabastecido durante uma neutralização. A organização resolveu não o fazer e assim retirou a vitória à Mini.

Este ano, a equipa da Honda e alguns pilotos voltaram a reabastecer numa neutralização e foram penalizados em uma hora. Ora, a Honda alega dois pesos e duas medidas, e basicamente alude que pela mesma razão a Peugeot não foi penalizada no ano anterior…., mas não tem razão, vamos aos factos: A Peugeot deveria ter sido penalizada em 2016, pois o regulamento proíbe o reabastecimento em sede de neutralização.  A ASO teve mal o ano passado e este ano voltou a estar mal já que a moldura da sanção vai de 3 horas à desclassificação e como tal a sanção de uma hora aplicada não tem qualquer base legal.

No meu entender, a Peugeot em 2016 e a Honda em 2017 deveriam ter ido para casa com desclassificação.

Os pilotos da Honda queixam-se, mas de quê? Eles não têm culpa, mas foi o seu diretor de equipa quem por incompetência e ignorância, ou esperteza estúpida resolveu montar essa estratégia.

A Honda resolveu contractar um mecânico simpático, mas mediano, à equipa KTM, e promovê-lo a diretor de equipa e o resultado está à vista. Funcionou o principio de Peter.

Os pilotos Honda em vez de baterem na ASO e no Colégio de Comissários que benevolentemente só os penalizou em uma hora, deveriam exigir e de imediato a demissão do seu diretor de equipa, que ainda não convencido que a sua estratégia foi errada tentou ludibriar o Colégio de Comissários em sede de recurso, quando ‘aldrabou’ a data do mesmo (pois tinha 24 horas para o apresentar e deixou passar o tempo). Mas não foram só os pilotos que foram penalizados, o Sviko da KTM também.

O regulamento sempre distinguiu entre ‘ligação’ e ‘neutralização’, e após esta penalização aproximei-me de um elemento da ASO para perceber onde estava a diferença do ano passado para este ano na perspetiva deles. Fui informado que na neutralização do ano passado a bomba de gasolina estava no percurso desta e que este ano estava fora. Pois, “bullshit”, que importa a localização da bomba de gasolina, numa neutralização não se pode reabastecer. Para mim a diferença chama-se Peugeot e isso está horrivelmente mal. Mais Peterhansel este ano partiu a perna a um piloto de moto e deveria ter sido penalizado, pois, mas a diferença chama-se “Peterhansel”.

É fácil perceber que sobre os Colégios de Comissários do Dakar paira uma mão do Big Brother e como tal as suas decisões não são imparciais, e em resumo a verdade factual do Dakar é esta: em 2016 a Peugeot deveria ter sido penalizada com um sanção que vai de um mínimo de 3 horas à desclassificação. Em 2017 a Honda deveria ter sido sancionada com uma penalização que vai de 3 horas à desclassificação, e foi apenas com uma hora. Peterhansel que pela segunda vez atropelou um motard, deveria ter sido penalizado e não foi. Para a história ficam 2 vitórias seguidas de secretaria  que ninguém se vai lembrar.

Quanto à organização quem em 2017 arriscou a Bolívia, onde não chovia mas resolveu chover, amputou a prova de umas centenas de km, que desportivamente põe em perigo a prova, mais, se com a chuva apenas podemos criticar a organização pela falta de um plano B, aquando do reconhecimento dos percursos, no que concerne à anulação de Super Fiambálá (etapa rainha), a organização esteve muito mal e totalmente descoordenada.

Às 10:00h da manhã um aluimento de terras soterra totalmente a aldeia de Volcán. Este acontecimento está na rota da caravana do Dakar, e apesar do percurso alternativo estar livre, a organização só fornece indicações ao fim do dia, depois de estarmos parados todo o dia e com isso veio a anulação da etapa de Super Fiambálá. Bastava à ASO informar a caravana atempadamente e todos chegaríamos ao bivouac a tempo e horas. Desportivamente este Dakar 2017 foi esmagadoramente dominado pela Peugeot e pela KTM.

A Peugeot que viu a fúria de Carlos Sainz destruir-lhe um carro não deu hipótese alguma e com os seus pneus únicos e suspensão milagrosa, consegue que a tração atrás deste carro seja muito mais eficaz que os 4×4 da Toyota e da Mini. O curioso é o regulamento indicar que os pneus têm que ser comerciais, mas a Michelin não os vende a ninguém. Assim, a Peugeot foi dona e senhora do Dakar 2017, com um pódio preenchido pela marca francesa.

Nas motos, a KTM ganha o Dakar há 16 anos consecutivos, desde 2000, e este ano, após a penalização da Honda, limitou-se a gerir a corrida, mesmo após a perca do Toby Price. No final três KTM preencheram o pódio, arrasando por completo a concorrência, dando-se ao luxo de o terceiro lugar do pódio ser preenchido por uma KTM de um cliente. A única marca que ameaçou o pódio da KTM, foi a Yamaha através de Beveren, que acabou em 4º lugar, e, que com tanta informação e contra informação acabaram por se esquecer dela. Os portugueses estiveram bem e cabe-me reconhecer que Paulo Fiúza e Felipe Palmeiro se consagraram como navegadores de referência nos automóveis e que apesar da ausência de pilotos nacionais, eles estiveram bem.

Nas motos, realço Hélder Rodrigues que pela décima vez acaba o Dakar no TOP 10 da geral, Mário Patrão que integra a equipa da KTM Factory e teve um papel notável e importante na vitória final da KTM neste Dakar, Joaquim Rodrigues que como estreante acabou num excelente 12º lugar, Gonçalo Reis, segundo na classe maratona e 25º à geral, e ultima palavra para Fernando Sousa Junior que se superou a ele próprio.

Caiu o pano sobre o Dakar 2017. Venha o Super Dakar de 2018, com essa possibilidade do Dakar do Pacifico (3 semanas) passando pela Colômbia.

Francisco Pita, ex-piloto do Dakar, cronista do MotoSport

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