Rui Gonçalves: “Temos pilotos em Portugal que têm ao seu alcance uma carreira internacional”

Por a 17 Dezembro 2015 15:48

O MotoSport esteve à conversa com Rui Gonçalves, o único piloto português a competir no Mundial de Motocross, na categoria MXGP. Nesta segunda parte da entrevista, o piloto de Vidago falou sobre o facto de Portugal não acolher pelo segundo ano consecutivo um prova do Mundial para além de ainda ter expressado a sua opinião sobre o motocross nacional.

Como é que se justifica que Portugal tenha poucos pilotos ao teu nível? Temos bons pilotos, mas não muitos a conseguirem fazer uma aposta duradoura numa carreira internacional num Campeonato do Mundo…
Eu gostava de conseguir responder a essa boa pergunta. O que é certo, é que não encontro resposta para te dizer a razão. Temos pilotos em Portugal que têm ao seu alcance uma carreira internacional e dessa forma conseguir alcançar o que eu consegui. O que não consigo justificar é a razão por que não conseguem. É difícil encontrar uma resposta, eu gostava bastante que existisse alguém que me pudesse suceder um dia no Mundial manter a bandeira nacional neste circuito. É óbvio que não vou conseguir correr até aos 45 anos, mas se visse que poderia estar ao meu alcance, e que existia a possibilidade de ajudar alguém, cá estaria para dar um empurrão. Agora também é certo que não posso eu tomar a iniciativa e decidir o que seja para um piloto ou para uma equipa, até porque quanto tinha 16 anos também tive de tomar uma decisão, com os meus país e cheguei a onde estou hoje. Agora tomar eu a iniciativa para outros pilotos, penso que não é acertado. Agora se puder ajudar, eu cá estarei…

Mas falta alguma coisa a Portugal para podermos ter mais pilotos a fazer um percurso internacional?
Toda a gente sabe que existe em Portugal uma grande aposta em torno do futebol, mas é óbvio que em relação ao Motocross este nem para as estatísticas conta, grosso modo. Ora, por isso sabemos que temos menos impacto para que se consiga montar projetos em Portugal para apostas no estrangeiro. É verdade, mas eu acho que não é só isso. No ano em que saí para o estrangeiro já tinhas vários pilotos com presenças em provas do Mundial e Europeu. Hoje em dia não temos isso no Motocross. A razão pela qual não temos, não sei e não consigo responder.

Como é que analisas o atual estado do mundo as duas rodas a nível nacional, do Enduro, TT, Motocross?
Atualmente, acompanho pouco e de muito longe. De qualquer forma penso que temos coisas positivas e outras menos boas. Mas como gosto de ser fiel aos meus princípios digo-lhe que quando não tenho influência direta sobre os assuntos não gosto muito de me pronunciar. Se fosse eu responsável por isso, é certo que assumiria os problemas e as coisas menos positivas que tem o Motocross, o Enduro ou outra área. Agora não posso por iniciativa própria estar a dar ideias de mudanças ou sugestões nesta ou naquela área, sem que haja por parte de quem tem essa competência entrar em contacto comigo para escutar as minhas opiniões, a exemplo do que fez agora a Youthstream. Não pensem com isto que é uma situação que pretendo, estou e estarei sempre é disponível para colaborar sempre que for solicitado, dentro da minha disponibilidade e da avaliação que fizer do assunto.

Mas lamentas que Portugal, pelo segundo ano consecutivo, não tenha uma etapa do Campeonato do Mundo?
É verdade e tenho muita pena que não tenhamos um GP em Portugal, mais uma vez não sei a razão oficial para isso. Foi sempre uma prova que vivi intensamente não só por ter ganho junto do meu público e no meu país mas também pela paixão com que os portugueses viviam a nossa prova. É verdade que a exemplo doutras disciplinas, o Motocross também está a apontar para Grandes Prémios fora da Europa, apesar de em Portugal termos condições fantásticas. Agora falta de certeza qualquer coisa para que a organização do Mundial mantenha uma prova em Portugal, por muita pena minha. Se pudesse ajudar a inverter essa situação, seria o primeiro a fazê-lo, mas penso que são situações que estão fora do meu alcance.

A conquista do vice campeonato do Mundo em 2009 foi até ao momento a cereja no topo do bolo desta aventura internacional. O que te pergunto é se tem o mesmo sabor do primeiro título de campeão conquistado em 1995 na classe de 65cc?
É diferente. Mas com um grande sabor. Em 1995 tinha poucas condições com os meus país a fazerem um grande sacrifício para que eu pudesse correr nas motos e íamos para as corridas com grande sacrifício financeiro e por isso se analisarmos bem percebemos que o título de 1995 teve um impacto enorme tendo em conta a minha idade.
Em 2009, o sabor é outro e as condições são o dia e a noite, completamente diferentes. Lutei por um título de Campeão do Mundo, integrado numa equipa de fábrica e onde marcas como a KTM e a Red Bull me apoiaram com um objetivo comum e com uma preparação enorme e por isso tudo foi diferente.
Mas a verdade é que um título é sempre um título, em 1995 foi o primeiro e consegui em Portugal outros títulos antes de apostar numa carreira internacional, mas 2009 e apesar de não ter conseguido o título, as quatro vitórias em Grandes Prémios, a vitória em Portugal foram memórias que continuam bem vivas e que vão ficar para o resto da vida.

 

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