MotoGP, as mulheres: Patricia Pacheco

Por a 8 Outubro 2020 18:30

Há poucas Técnicas de Telemetria no Campeonato do Mundo, mas graças a Patricia Pacheco, isso poderá mudar no futuro“Saber que há raparigas que me vêm como modelo enche-me de orgulho” diz ela

O trabalho de Patricia Pacheco dentro da boxe é essencial. O Técnico de Telemetria é quem analisa os dados da moto e, juntamente com o seu superior, o técnico chefe, escolhe a estratégia para propor ao piloto para o fim de semana de corrida.

Patri trabalha com pilotos que são pouco mais do que adolescentes, com pressão que às vezes podem ter dificuldade em gerir. Mas é precisamente a sua capacidade de ler dados do computador com naturalidade que alivia as tensões aos olhos daqueles jovens profissionais.

Encontrar sempre as palavras certas para que os talentos de hoje tenham a serenidade e a concentração para se tornarem campeões do futuro é o seu trabalho.

A sua história começa em Madrid, 1989. Em criança, assistia aos Grandes Prémios de MotoGP na televisão apoiando o seu ídolo, Sete Gibernau.

“Sonhei um dia ser a primeira pessoa com quem o piloto fala assim que sai da moto, a pessoa a quem recorre, para encontrar uma solução para ser mais competitivo”, diz com um sorriso, recordando quando o que agora é o seu trabalho, era apenas um objetivo distante, quase inatingível.

“Sempre fui boa em matemática e física, por isso escolhi estudar engenharia aeroespacial e durante alguns anos trabalhei em Madrid nesta área. Estava a fazer um estágio em consonância com o que tinha estudado e, assim que o contrato terminasse, contratavam-me. Mas não era bem o que eu queria.”

A sua paixão sempre foi motos e esse sonho de infância merecia realizar-se, ou pelo menos, Patri queria ter a certeza de que tinha tentado de todas as formas antes de desistir.

“A única maneira que me veio à cabeça naquela altura para me tornar telemetra era mudar-me para Barcelona e frequentar a escola da Monlau. Foi então o que fiz, deixei a minha família, e um trabalho seguro garantido para me lançar numa nova aventura, para o desconhecido.”

Uma vez em Barcelona, Patricia dedicou toda a sua energia e cada momento do seu tempo a estudar, e depois a encontrar trabalho no CEV Repsol e no Campeonato Espanhol.

“No meu primeiro ano no campeonato de Pré-Moto3, ganhei o título com o Sérgio Garcia. Chegámos à última corrida tensos, totalmente concentrados porque era essa a aposta em que estávamos a jogar após um ano de trabalho. No início da última volta, o nosso piloto estava no fundo do top 10 do grupo, estávamos quase resignados, em vez disso conseguiu recuperar seis posições e tornou-se o campeão nessa época. Lembro-me de quando cheguei ao Parc Fermé senti o meu coração a explodir de alegria!”

Uma primeira satisfação que lhe deu o impulso para apontar ainda mais alto.

“O CEV é uma excelente série e senti-me muito confortável na equipa onde estava, mas gostavaa de trabalhar no Campeonato do Mundo.” A oportunidade apresentou-se em breve e Patricia superou alguns dos seus medos.

“Soube que Paolo Simoncelli procurava dois Técnicos de Telemetria: um para a sua equipa no CEV e outro para o campeonato do mundo. Então, quando o conheci no paddock, lutei contra a minha timidez para dar um passo em frente, apesar de não falar italiano. No início, Paolo propôs-me o lugar para o campeonato espanhol.”

Mas embora não dominando bem a língua, Patri encontrou uma maneira de se fazer entender. Foi precisamente essa determinação e aquele imparável estar à frente de todos os limites que deixou claro, em poucos momentos, ao dono da SIC58 Squadra Corse que tinha a pessoa que procurava à sua frente.

Desde 2018, ano da sua chegada à classe de pesos-leves do Campeonato do Mundo, Patricia tem estado ao lado de Tatsuzi Suzuki e juntos arrecadaram 4 poles e 4 pódios, incluindo 2 vitórias.

Nos últimos anos tem continuado a crescer e a mostrar que é muito boa naquilo que faz ao ponto de, a partir de 2020, Paolo Simoncelli lhe ter confiado a gestão técnica da SIC58 Squadra Corse no CEV, acompanhando José Julian Garcia e Senna Agius ao topo.

Tanto no Campeonato de Espanha como no Campeonato do Mundo, os GPs de Patricia começam na quarta-feira a montar a garagem, depois na quinta-feira assistir à corrida anterior e analisar os dados da pista no ano anterior juntamente com os pilotos e Marco Grana, gerente técnico da equipa envolvida no Campeonato do Mundo de Moto3.

Observam todos os detalhes para perceber quais são os pontos fortes dos rivais, quem ganhou velocidade a certa altura na pista, que erros há que evitar e como escolher a afinação da moto.

“Depois, na sexta-feira chegamos cedo ao circuito para começar o espetáculo.

Quando o Tatsu volta da pista, ligo o computador à moto para descarregar toda a informação. Enquanto o piloto explica ao Marco, o nosso técnico, as sensações que teve com a moto, procuro uma confirmação nos dados, que sugerem travar primeiro, em vez de acelerar mais tarde. Uma vez terminada a sessão, estudamos cuidadosamente toda a informação e decidimos a estratégia para o dia seguinte.”

Parte do paddock há alguns anos, Patricia tornou-se um rosto familiar para os fãs de MotoGP.

“Quando estamos nos circuitos acontece muitas vezes que as meninas param e, juntamente com os pais, perguntam-me qual o caminho que tomei para poder trabalhar no Campeonato do Mundo. Emociona-me ver como ouvem a minha história. Na minha opinião, se eu consegui, todas as raparigas podem conseguir, mas saber há raparigas, como eu poderia ter sido há uns anos atrás, que vêem em mim um modelo e isso enche-me de orgulho.”

Para fazer bem o trabalho do Técnico de Telemetria, a confiança dos pilotos é essencial. No seu caso, Patri combina o seu conhecimento de engenharia com a sensibilidade que distingue as mulheres e assim explica aos seus pilotos que também é legítimo ter medo ou experimentar momentos de desespero.

Ajuda-os a manter o fogo que cada um deles tem, para que encontrem dentro de si a motivação para reagir e a determinação de ser o primeiro a cruzar a linha de chegada. A sua história é a sua força e Patri partilha-a com prazer para que outros jovens entusiastas de motos também possam realizar esse sonho de viver uma vida nas corridas.

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