O piloto turco está a atrair imensa celeuma, entre apoiantes incondicionais, e críticos que acham que nunca fará a sua marca na classe rainha
Conseguirá Toprak Razgatlıoğlu singrar na MotoGP e começar a escrever um novo capítulo da História do Motociclismo? Até hoje, poucos pilotos fizeram a transição das SBK para a classe rainha, e menos ainda com sucesso…

Muitos tentaram, aliás, em 37 anos de Mundial de Superbike, apenas 2 dois 19 Campeões do Mundo nunca competiram num Grande Prémio de MotoGP- Tom Sykes e o próprio Toprak Razgatlıoğlu. Há várias razões para isso: quando conheciam sucesso suficiente para lhes ser facultada uma oportunidade de tentar a MotoGP, a maioria já tinha alguns anos, e estava acomodada demais num Campeonato que conheciam bem para arriscar elevar a fasquia… foi o caso de Fogarty ou Rea. Outros, fizeram a troca e chegaram a vencer Grandes Prémios, como Spies ou Crutchlow, mas nunca foram candidatos sérios ao título.

Raymond Roche foi o primeiro Campeão de SBK pela Ducati, em 1990, mas antes tinha corrido vários anos nas 500 – Foto Paulo Araújo
O facto de que tantos Campeões de Superbike foram repetentes também não ajuda, pois reduz o número de possíveis… Somando os 2 títulos de Merkel, Polen, Corser, Edwards, Biaggi, Toseland, Bautista e Razgatlıoğlu aos três de Bayliss, quatro de Fogarty e seis de Rea, só aí dá 29 dos 37 possíveis… o que torna os que só venceram uma vez, como Raymond Roche, Scott Russell, Sylvain Guintoli ou Neil Hodgson, quase a exceção, mais do que a regra.
Voltemos no entanto a Toprak, analisando o que poderá jogar a seu favor e o que, de certeza, será um fator contra: a seu favor, Toprak Razgatlıoğlu tem um controlo de moto extraordinário, talvez ao nível do Alien Marc Márquez, em termos da capacidade de deslizar a moto em ambas as rodas mantendo ao mesmo tempo controlo.

Troy Corser (Suzuki Alstare, Brands Hatch, 1995) tinha corrido nas 500 em 1997, antes dos seus 2 títulos de SBK – Foto Paulo Araújo
1 Ponto a favor, portanto. 2: Travagem. Não foi à toa que a BMW foi buscar Razgatlıoğlu, o último dos desesperados na travagem, da escola do igualmente assustador Kenan Sofuoglu. A M1000RR era a moto que melhor travava, mantendo compostura de chassis, no plantel das SBK, e fazia sentido montar nela o piloto mais capaz de explorar essa qualidade… como um aparte, essa capacidade também não será estranha à contratação agora de Miguel Oliveira, se se lembram das suas ultrapassagens nos travões em Moto3 e Moto2… Finalmente, a personalidade do próprio Toprak, um piloto determinado e feroz, que se dedicará com todo o seu ser a aprender a extrair o máximo, seja de que moto for, ignorando contratempos, lesões e desconforto a caminho do seu objetivo… 3 pontos a favor, digamos.
Contra? 1: Uma moto desconhecida, num paddock desconhecido, com um formato de corridas diverso.

2: Pneus diferentes dos que utilizou até aqui em toda a sua carreira. Diferentes na forma como agarram, na forma como soltam ou derrapam em controlo, e na gestão do desgaste ao longo de uma corrida, um dos pontos fracos de Razgatlıoğlu na fase inicial da sua carreira.
3. Um piloto que vem da MotoGP acha uma Superbike algo preguiçosa, pesadona e fácil de avaliar os limites em controlo… Pelo contrário, vindo das SBK, um protótipo de MotoGP tem potência assustadora, uma quantidade de controlos a que se habituar, e parâmetros de ajuste, quer em número, quer nas possibilidades de afinação e nas suas permutações, com que um piloto de SBK só pode sonhar… Aqui, a presença ao lado do piloto de um técnico chefe experiente, só para lhe dar a conhecer os parâmetros com que o piloto pode jogar, vai ser fundamental.
4 Outro ponto contra, porventura o mais crítico, é que Toprak Razgatlıoğlu chega à MotoGP para pilotar a moto menos competitiva da grelha… Quer a Honda, quer a Yamaha têm neste momento um piloto cada no fundo do Top 10: Quartararo no caso da Yamaha e Zarco no caso da Honda. O pior é que a Honda tem 2 pilotos quase a seguir, Marini em 13º e Mir em 15º, enquanto que a Yamaha tem os seus 3 pilotos praticamente em linha no fundo da tabela, Miller em 18º, Rins em 19º e Oliveira em 21º a 2 pontos de Martín, cuja razão para estar tão baixo é diversa.

Nesta avaliação arbitrária, pois trata-se de uma opinião pessoal, mesmo de alguém que segue a classe rainha há mais de 45 anos, há portanto 3 pontos a favor e quatro contra.
Decerto, o último ponto é o mais crítico. Como as coisas estão, ninguém conseguiria vencer numa Yamaha contra as Ducati e Aprilia… perguntem a Fabio Quartararo! Talvez a chegada da Pirelli venha mitigar isso… mas até aí, teremos de esperar por 2027!
Será que após um 2026 de aprendizagem, e beneficiando das chegada dos familiares Pirelli, o turco consegue ter sucesso onde outros grandes Campeões do Mundo falharam? Ver um duelo Razgatlıoğlu versus Márquez seria decerto um deleite para qualquer fã!
















