A guerra que se vem desenvolvendo nas redes sociais entre os apoiantes incondicionais do Miguel Oliveira e os que acham que está acabado, ou pior, que nunca foi mais que mediano, suscita inevitavelmente vários comentários.
Crónica de Paulo Araujo

Desde logo, é aparente que há muita gente a seguir o MotoGP só há escassos anos, faltando portanto uma tão essencial perspectiva global para poderem opinar sobre o Campeonato. Quer dizer, opinar qualquer um tem direito de fazer, mas para a opinião ser relevante e não risível, é preciso um pouco mais de bagagem.
Para entender a posição do Miguel, são precisas várias coisas… A primeira, é um conhecimento algo profundo de técnica, conhecimento esse dificultado pelo pouco que as marcas revelam agora das motos. Lembro-me de entrar nas boxes nos anos 80 e o mecânico, às vezes o próprio piloto se nos conhecesse, explicava o que tinham feito à moto, e porquê… só nas equipas de fábrica alguns segredos era guardados mais ciosamente, não tanto pelos jornalistas, mas numa tentativa de impedir os outros de copiar ou atrasar essa reação. Por exemplo, a dada altura nos anos 90 as equipas só se aperceberam da chegada dos motores Big Bang da Honda NSR500 quando ouviram Mick Doohan em pista.
A segunda condição é, como comecei por mencionar, uma visão global, pelo menos dos últimos 25 anos, quando a MotoGP passou a 4 tempos, mas ajudava recuar aos anos 70 do século passado. Essa visão global ajudaria a captar um elemento nem sempre óbvio: O crescimento exponencial da expectativa, ou se quiserem, grau de exigência no desempenho de um piloto. Pecco Bagnaia é neste momento troçado e vilipendiado por estar a ser batido por Márquez… mas está em terceiro no campeonato! Até à Hungria, contava com sete pódios, um deles uma vitória, que mal se pode considerar medíocre.
Por comparação, quando Barry Sheene, ainda tão falado por ser o último piloto inglês a sagrar-se Campeão na classe rainha, venceu os seus dois campeonatos em 76 e 77, fê-lo vencendo 5 GP de 10 em 1976 e 6 de 11 em 1977… mas também não pontuou na Áustria, na GB, e na Checoslováquia. É verdade que as motos de então eram muito mais frágeis e avariavam frequentemente, mas ninguém chamava Sheene um falhado por não terminar todas as provas a caminho do título.
Há umas escassas épocas atrás, Andrea Dovizioso foi despedido da Ducati porque… estava sempre a ficar em segundo no campeonato!
A pressão agora é vencer, vencer, vencer, obrigando os pilotos a riscos acrescidos, como é sobejamente ilustrado pelos altos e baixos de Márquez, que com 8 títulos mundiais quase viu a sua carreira terminar e esteve mesmo em risco de perder um braço por lesão.

O que nos tráz de volta a 2025 e ao Miguel. Quanto a ser mediano, nenhum piloto mediano teria 17 vitórias em Grandes Prémios, 5 delas na classe rainha… pelo contrário, ocorrem-me vários que fizeram a sua carreira inteira sem nunca pisar o degrau mais alto, como Colin Edwards – que no entanto teve 2 títulos mundiais de SBK – ou Ron Haslam, que durante anos ente 1983 e 1993 foi dos mais proeminentes pilotos Honda nas 500.
Quanto a não se aplicar na Yamaha basta ver as outras motos da marca, com Alex Rins (8 anos e 6 vitórias em MotoGP) numa das oficiais mas pouco à frente nas tabelas, quando não mesmo atrás, do Miguel, ou Jack Miller (10 anos e 4 vitórias em MotoGP) idem, idem. Até o ex-Campeão e mais bem pago piloto do plantel, Fábio Quartararo, está apenas no Top 10 e não consegue traduzir a ocasional pole em resultados de monta em corrida.
Lá está, um pouco mais desse conhecimento técnico que pelos vistos falta a muitos desbocados, e seria óbivo que quando as 4 Yamaha acabam todas no fundo da tabela, o problema está na moto e não no(s) piloto(s).
Para mais, nenhum deles perdeu 4 corridas no início do Campeonato por lesão, com tudo que isso implica no regresso. Alex Barros (lembram-se dele?) disse-me uma vez “o mais perigoso é quando regressas de lesão e queres fazer tudo de uma vez sem estares bem, voltas a lesionar-te e torna-se um ciclo vicioso!”
Quanto à controversia da entrada de Toprak Razgatlioglu obrigar a Yamaha a dispensar alguém, é impossível dizer qual será a decisão, mas atentem na razão que terá levado à contratação do português pela Pramac em primeiro lugar: Duma das equipas mais credenciadas no paddock em Ducati, a Pramac passou à cauda do pelotão no momento que mudou para a Yamaha numa fase em que o quatro em linha tem os dias contados e a marca de Iwata se apresta a render-se à toda-poderosa configuração V4.
Virtualmente às cegas nesse território, a marca rodeou-se de pilotos que podem trazer dados preciosos e valiosa experiência à marca: Com os seus anos a pilotar V4, primeiro na KTM (onde permanece o piloto com mais vitórias) e depois na Aprilia, Oliveira pode trazer um tesouro de experiência à equipa… e ao contrário do limitado Australiano Miller, que há de falar Inglês e pouco mais, pode transmiti-la à equipa em Inglês, Francês, Italiano ou Espanhol… não descurem nem por um momento a sua capacidade como piloto de desenvolvimento… para vencer, estará lá Quartararo, quando chegar o momento… Mesmo que o seu percurso na Pramac, até na MotoGP, esteja terminado, a missão de Oliveira na equipa era dar a Quartararo a melhor moto possível… e a prova de que não falhou são as poles do Francês!
















