Arrogância da gestão austríaca contra fracos resultados, comerciais e desportivos, não tem ajudado

Fotos KTM Red Bull Factory Racing e KTM Tech3
As recentes dificuldade da marca austríaca já foram sobejamente documentadas, com o último capítulo a aquisição pela parceira indiana Bajaj, que passa a controlar a marca. Uma das consequências imediatas já intimadas será uma redução de custos, com possível reflexo no programa de MotoGP, que custa milhões à marca, mas mal se traduz em aumento de vendas, em vista da fraca gama estradista da marca, cuja especialidade é o Todo-Terreno.

No passado, tentativas de introduzir uma SBK estradista falharam, e agora, apesar de declarações atribuídas ao novo CEO Gottfried Neumeister (o nome não podia ser melhor, querendo dizer em alemão ‘novo amo’) de que tudo vai bem, nos bastidores há uma guerra de preços em curso para reduzir stock e, segundo ‘insiders’, o investimento na competição, estimando na ordem dos 70 milhões de euros, está a ser ponderado pela nova administração.

Os sinais, segundo o site GPOne, começaram ainda sob a administração Beirer com cortes em despesas que terão afetado negativamente a divisão de competição em Munderfing, na Áustria. Desde o verão de 2024, portanto há mais de um ano, que a KTM separou a divisão de competição como KTM Racing AG, incorporada na Suíça, e tem tentado obter investidores para esta sem sucesso.

A única vantagem visível foi que, quando a Pierer Mobility, companhia mãe da KTM, declarou falência a 29 de Novembro de 2024, com dívidas da ordem dos 1,8 mil milhões de euros, a operação de MotoGP não foi afetada na altura. A expetativa era que, com a aquisição da Dorna, e portanto, da MotoGP, pela Liberty Media, que antes potenciara a F1 para lucros inéditos, todo o espetáculo valorizasse e a KTM Racing atraísse investidores.

Vários potenciais interessados foram mesmo mencionados, desde Lewis Hamilton, que expressara interesse na MotoGP, ao fundo de investimentos Black Rock, mas mais do que esbanjar na MotoGP, a prioridade do Grupo será salvar as várias marcas que detém, como a KTM, Husqvarna ou GasGas (estas duas últimas clones das motos de TT da KTM que só diferem praticamente na cor), e com elas, milhares de empregos.
Como ‘penso rápido’, a Bajaj Auto entrou com 800 milhões, à custa de renomear a empresa ‘Pierer Bajaj AG’, que detém 79% do capital, mas agora é o seu CEO Rajiv Bajaj que está à procura do tal financiamento, com Stefan Pierer a demitir-se de todas as posições executivas que detinha.

As coisas ficaram mesmo sérias por altura de abril, quando, por dívidas aos fornecedores e portanto, encomendas paradas, a fábrica parou por 3 meses até fins de julho. Contra a afirmação de que as vendas estão em alta, que implicaria vender 150.000 das motos feitas na Índia, a produção atual resume-se a 10.000 motos por mês, e nem vender stock atual a preços de saldo iria encher os cofres.

Agora, as afirmações de Neumeister de que tudo está bem após 3.000 despedimentos estão a ser vistas como arrogância, que em nada ajudará a marca a assegurar investidores. Já o plano da Bajaj para regresso à rentabilidade é simples: cortes de 50% nos custos, redução da gama de 80 modelos que se auto-canibalizam e um olhar rigoroso a todas as despesas desnecessárias.

Por outro lado, para quem reclama 2025 como o melhor ano da KTM na competição, a marca não venceu uma corrida de MotoGP a partir de Junho e nem o brilho tardio de Pedro Acosta apaga o facto de que Binder, o primeiro piloto a dar à RC16 de MotoGP uma vitória em 2022 não conseguiu um único pódio em 2025, pela primeira vez, e caiu de 5º para 11º no Campeonato.

Outro tiro no pé foi a tentativa de demoção do piloto com mais vitórias na marca, (5 de 7) Miguel Oliveira. O pretexto era que este acabou o ano apenas 10º, mas Oliveira, em vez de aceitar a passagem da equipa de fábrica para a satélite Tech3, preferiu ir para a Aprilia. O seu substituto, Jack Miller, acabaria apenas 11º e 14º nas duas épocas seguintes, sem nunca igualar o desempenho do português, ou seja, a emenda foi pior que o soneto.
A gabarolice de que a marca tem 155 vitórias nas 3 classes de MotoGP cai em saco roto contra as 825 da Honda ou as 520 da Yamaha.
O futuro imediato dirá se a humildade indiana será suficiente para inverter os estragos feitos pela proverbial arrogância austríaca…
















