A decisão de Miguel Oliveira em 2022 de mudar da KTM para a Aprilia para a temporada de 2023 continua a ser um tema de análise e debate no paddock do MotoGP. Na altura, o piloto português recusou regressar à Tech3 (agora com o estatuto de equipa de fábrica da KTM/GASGAS), optando pela recém-formada equipa satélite RNF Aprilia — uma decisão ambiciosa, mas arriscada, dado o fase de desenvolvimento em que a Aprilia ainda se encontrava.
No entanto, havia uma alternativa em cima da mesa: a Gresini Racing, uma equipa independente, mas equipada com motos Ducati Desmosedici, que naquela altura eram amplamente reconhecidas como as melhores motos da grelha e ainda o são. A escolha de Noale em vez de Borgo Panigale levantou questões na altura sobre a estratégia a longo prazo — e, à luz dos acontecimentos recentes, é legítimo perguntar: Miguel Oliveira teria feito melhor em juntar-se à Gresini?
A resposta, com o benefício da retrospectiva, inclina-se para sim.
A Gresini Racing, apesar de ser uma equipa privada, rapidamente se estabeleceu como uma das equipas mais competitivas da classe rainha, com Enea Bastianini em 2022 e depois os irmãos Márquez a capitalizar o potencial da Desmosedici. A moto Ducati provou ser consistente, rápida e adaptável a vários estilos de pilotagem — o tipo de base técnica que poderia ter ajudado Oliveira a lutar regularmente pelos primeiros lugares.
Por outro lado, o seu tempo na RNF Aprilia foi marcado por lesões, inconsistência e limitações técnicas. Apesar de alguns sinais de competitividade, a RS-GP ainda estava longe da maturidade que demonstra hoje, e a estrutura satélite da Aprilia revelou-se incapaz de dar a Miguel as ferramentas de que ele precisava para dar o seu melhor.
Além disso, a Gresini oferecia um ambiente mais consolidado, com apoio técnico direto da Ducati e a clara possibilidade de promoção futura — algo que se concretizou com pilotos como Bastianini e que hoje continua a ser um dos pontos fortes da marca italiana na gestão de talentos, apesar de trocar os italianos pela KTM.
Miguel Oliveira, com o seu talento natural e experiência, poderia ter beneficiado de uma plataforma mais competitiva e estável, como a Gresini, para se manter na vanguarda da grelha. A escolha da Aprilia, embora compreensível do ponto de vista do projeto e da autonomia, acabou por atrasar a sua afirmação contínua na elite do MotoGP.
Hoje, com um novo capítulo na Prima Pramac Yamaha, Oliveira tem mais uma vez a oportunidade de brilhar com uma moto de fábrica. Mas a decisão de 2022 continua a ser um momento-chave na sua carreira — e talvez um daqueles «e se» que marcam a trajetória de qualquer piloto de topo.