MotoGP, história: Os anos de John Surtees

Por a 30 Março 2020 16:00

Independentemente do número de títulos mundiais de John Surtees na classe rainha (e foram quatro!) há uma marca que o distingue e torna único da história do automobilismo, sim, leram bem, extravasa a divisão duas rodas /quatro rodas: É que Surtees é o único piloto que foi campeão mundial de 500 e de Fórmula 1.

Já a lista dos que o seguiram nessa aventura é muito rarefeita: Hailwood, que pilotou para o próprio Surtees com algum sucesso, o Venezuelano Johnny Cecotto, Campeão Mundial de 350, com 23 corridas na Formula 1 no começo dos anos 80 para a equipa do Milionário Macaense Teddy Yip, com um melhor resultado de 6º em Long Beach, e tentativamente, pilotos como Rossi ou Márquez que deram uma voltas num F1 para promoção, mas sem nunca terem alinhado numa corrida.

Para mais, Surtees foi também construtor de carros de corrida, e correr no seu próprio carro é outra coisa de que só uma mão cheia se pode gabar!

Sir John Surtees, agraciado com a CBE, Ordem do Império Britânico, nasceu em Surrey, Inglaterra, a 11 de Fevereiro de 1934, filho dum piloto e comerciante do ramo moto, Jack Surtees, que competia em grass track e de facto foi Campeão de Sidecar da zona sul de Inglaterra.

O filho teve a sua primeira saída profissional, que ganharam, no sidecar Vincent do seu pai, aos 14 anos. No entanto, quando os comissários descobriram a verdadeira idade de Surtees, foram desclassificados.

Entrou depois na sua primeira corrida aos 15 anos numa competição de grasstrack. Em 1950, aos 16 anos, foi trabalhar para a fábrica da Vincent como aprendiz. Ganhou destaque pela primeira vez em 1951, quando deu à estrela da Norton Geoff Duke forte réplica numa corrida no Circuito de Thruxton.

Em 1955, o chefe de competição da Norton Joe Craig deu a Surtees a sua primeira oportunidade de competir numa Norton de fábrica. O jovem de 19 anos terminou o ano batendo o campeão mundial Geoff Duke em Silverstone e depois em Brands Hatch.

No entanto, com a Norton em dificuldades financeiras e incerto sobre os seus planos de corrida, Surtees aceitou uma oferta para correr para a equipa de corridas da MV Agusta, onde logo ganhou a alcunha figlio del vento (filho do vento).

Em 1956 Surtees venceu o campeonato mundial de 500 cc, o primeiro da MV Agusta na classe rainha. Nisso, Surtees foi de certo modo ajudado pela decisão da FIM de banir o campeão, Geoff Duke, durante seis meses devido ao seu apoio a uma greve de pilotos por mais dinheiro e condições de segurança. Na temporada de 1957, as MV Agusta não estavam à altura das Gilera e Surtees lutou pelo terceiro lugar a bordo de uma MV Agusta 500 Quattro.

Mais a mais, nesses anos em que o Campeonato Mundial se compunha de apenas 7 provas, Surtees venceu metade no primeiro ano em que foi Campeão, batendo Geoff Duke, e venceu-as todas em 1959 e quase todas em 1958 e 1960!

Quando a Gilera e a Moto Guzzi se retiraram das corridas de Grande Prémio no final de 1957, Surtees e a MV Agusta passaram a dominar a competição nas duas classes maiores de 350 e 500. Em 1958, 1959 e 1960, ganhou 32 de 39 corridas e tornou-se no primeiro homem a ganhar o TT Sénior na Ilha de Man TT três anos consecutivos.

Enquanto ainda corria de moto a tempo inteiro, Surtees realizou um teste num DBR1 da Aston Martin na presença do team manager Reg Parnell. É famosa a sua resposta a uma oferta da Copper, dada a rapidez demonstrada num primeiro contacto: “não, não, eu sou um homem das motos!” Isto, apesar de semrpe se ter ganho muito mais dinheiro nas 4 rodas que nas 2… Assim, continuou nas motos e só entrou nas corridas de automóveis no ano seguinte.

Em 1960, aos 26 anos, Surtees trocou das motos para os carros a tempo inteiro, fazendo a sua estreia na Fórmula 1 no Troféu Internacional BRDC de 1960 em Silverstone para o Team Lotus. Teve um impacto imediato, com um segundo lugar na sua segunda corrida do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, no Grande Prémio da Grã-Bretanha de 1960, e uma pole position no seu terceiro, o Grande Prémio de Portugal de 1960.

Depois de passar a temporada de 1961 com a Yeoman Credit Racing Team dirigindo um Cooper T53 “Lowline” gerido por Reg Parnell e a temporada de 1962 com a Bowmaker Racing Team, ainda gerido por Reg Parnell mas agora no Lola Mk4 V8, mudou-se para a Scuderia Ferrari em 1963 e ganhou o Campeonato do Mundo para a equipa italiana em 1964.

Em 25 de Setembro de 1965, Surtees teve um acidente quase fatal no Circuito de Mosport Park no Canadá enquanto treinava num Lola T70. Um apoio frontal tinha partido. Surtees saiu do acidente atrofiando, com um lado do seu corpo 10 centímetros mais curto que o outro. Os médicos trataram a maior parte das fraturas não cirurgicamente, em parte esticando o seu corpo despedaçado até que a discrepância direita-esquerda ficou abaixo de um centímetro.

A temporada de 1966 viu a introdução de novos motores de 3 litros para a Fórmula 1. A estreia de Surtees com o novo carro de F1 da Ferrari foi no Troféu Internacional BRDC de 1966 em Silverstone, onde se qualificou e terminou em segundo lugar atrás do Brabham BT19 de 3 litros de Jack Brabham.

Algumas semanas depois, Surtees liderou o Grande Prémio do Mónaco, afastando-se do BRM de 2 litros de Jackie Stewart nas retas, antes do motor falhar. Quinze dias depois, Surtees sobreviveu à tempestade que eliminou metade da grelha para vencer o Grande Prémio da Bélgica.

(continua)

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