MotoGP, 2020: O que vale um contrato?

Por a 26 Novembro 2019 16:00

Nas últimas semanas, mal se passou um dia sem que um contrato válido de MotoGP fosse quebrado ou cancelado. Somente na MotoGP, houve quatro exemplos com Zarco, Lorenzo, Alex Márquez e agora, Karel Abraham.

Diz-se que os contratos não valem o papel em que foram escritos. Hoje, isso não corresponde necessariamente à realidade, uma vez que os contratos geralmente nem sequer são já impressos, e são enviados apenas em formato eletrónico pelo mundo digital.

Frequentemente, somente é impressa a página na qual o contrato é assinado. Ela é digitalizada e enviada de volta para a equipa. De qualquer forma, os pilotos estão mais interessados na página em que o salário e os valores dos pagamentos de bónus são detalhados.

Mesmo assim, violações de contrato estão realmente mais do que nunca na ordem do dia. Antes do fim da época de 2019, as estrelas Jorge Lorenzo e Johann Zarco dissolveram os seus contratos de dois anos com a Honda e a KTM, respetivamente. Pelo menos, estes foram do lado do piloto, e o tricampeão mundial podia reivindicar uma lesão complicada como razão para o seu abandono.

Já o francês, protestou durante meses sobre a falta de competitividade da KTM RC16, ignorando o facto de que não só o companheiro de equipa Pol Espargaró conseguiu sempre melhores resultados individuais, mas também quase sempre o rookie Miguel Oliveira, na equipa satélite Tech3.

Zarco ignorou o fato de que os gestores de equipas concorrentes lêem portais e declarações on-line após os treinos e corridas e perguntam aos colegas o que se passa. Como resultado de ser desbocado, Zarco não seria bem-vindo na Repsol-Honda e nem sequer conseguiu um lugar na Honda LCR. Ao mesmo tempo, ao andar na Honda,  deitou fora a  hipótese de ser o piloto de testes da Yamaha, embora Lin Jarvis tenha recentemente negado que isso fosse uma certeza absoluta…

Se o complicado bicampeão mundial de Moto2, que já consegui também resultados nos primeiros 6 da MotoGP (com seis pódios) se poderá reabilitar no lugar agora anunciado na mais fraca Avintia Ducati, com uma máquina de 2019, no lugar que Karel Abraham tinha que comprar por 1,5 milhões de euros por ano, ainda está para ver…

De volta aos outros contratos quebrados: Jack Miller estava preocupado com o seu acordo no GP da Áustria em Agosto, que ao ser renovado, lhe garantiu mais uma temporada na Pramac-Ducati, ao lado de Pecco Bagnaia – agora, ambos com uma GP20.

Mas antes da confirmação a razão prendia-se com a Ducati Corse estar supostamente a negociar com Lorenzo, que deveria ficar por um ano na Pramac e depois se corresse bem, regressar à equipa de fábrica em 2021. Em vez de, ou ao lado de Andrea Dovizioso, que parcialmente caiu em desgraça com Gigi Dall’Igna com declarações críticas sobre o pouco progresso da Desmosedici.

Jack Miller propôs-se em Spielberg à Red Bull KTM para substituir Zarco interinamente. Mas como a HRC na altura não libertou Lorenzo para 2020, e a Ducati acabou por lhe renovar contrato, a insatisfação de Miller resolveu-se.

Mas isso não impediu o turbilhão da Ducati. Durante semanas em Setembro, por volta de Aragón, especulou-se se Miller deveria ser promovido à equipa de fábrica em vez de Petrucci.

Até se chegou a falar de uma mudança de Petrucci para as Superbikes ou para a Avintia. Mas o manager de Petrucci, Alberto Vergani, tinha um contrato à prova de bala, e o proprietário da Pramac, Paolo Campinoti, insistiu nos seus direitos sobre Miller, dificultando as coisas à casa mãe a ponto do negócio não avançar.

No Campeão do Mundo de Moto2 em Valencia, Alex Márquez ainda estava no alinhamento da MarcVDS para a Moto2. A equipa já contava com mais uma temporada do campeão, mas perante a pressão da Honda, cedeu, sabe-se lá à troca de que favores futuros…

No final, Karel Abraham foi mesmo demitido da Avintia, com a desculpa de não ter cumprido o seu contrato, porque não pagou a totalidade devida pelo seu lugar em 2019. A verdade é que a Avintia precisava do lugar para Johann Zarco.

Nas classes pequenas, as transferências passam mais despercebidas porque atraem menos atenção dos media. Raúl Fernandez, campeão mundial júnior de 2018, deixou a equipa KTM Nieto de Moto3 de Jorge Martinez Aspar apesar de um contrato válido, e vai para a KTM Red Bull Ajo.

Aki Ajo precisava de um novo piloto de Moto2 depois de ter de ceder Iker Lecuona à KTM Red Bull Tech3 de MotoGP, de onde Brad Binder, originalmente nomeado para alinhar ao lado de Miguel Oliveira, foi transferido para a equipa da fábrica para assumir o lugar de Zarco. Ajo acabou por recorrer ao japonês Tetsuta Nagashima, que estava sob contrato com a equipa SAG.

É de salientar que nenhum deles apoiou ativamente nenhuma quebra de contrato, o piloto é que quis a mudança. E os donos das equipas abandonadas sabem que pilotos que querem sair para outra equipa não podem ser impedidos por um papel, sob pena de ficarem desmotivados e não revirem para nada.

Foi o que Sito Pons ficou a saber quando MarcVDS (por causa da partida de Alex Márquez) marcou o três-vezes vencedor Augusto Fernández e o “sacou” em poucos dias.

O empresário e ex-Campeão de 250 espanhol pelo menos tornou essa desgraça menos amarga exigindo uma compensação considerável à outra equipa…

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