As novas regras do MotoGP para 2027 visam uma revolução na segurança, sustentabilidade e entretenimento

A partir de 2027, o MotoGP prepara-se para uma mudança significativa que irá redefinir a face da principal categoria do motociclismo. As novas regras técnicas, anunciadas pela Comissão de Grande Prémio da FIM e ratificadas a 26 de abril de 2024 em Jerez, prometem tornar as corridas mais seguras, sustentáveis e espetaculares, sem sacrificar a adrenalina que torna o desporto único.

Primeira das novas regras, redução da cilindrada de 1000 cc para 850 cc
Uma das alterações mais significativas é a redução da cilindrada do motor de 1000 cc para 850 cc, acompanhada por uma redução do diâmetro máximo do cilindro (diâmetro interior) de 81 mm para 75 mm.
Esta medida, a primeira alteração desde 2012, visa reduzir a potência geral e a velocidade máxima das motos, tornando as corridas mais seguras e controláveis. De acordo com Corrado Cecchinelli, diretor de tecnologia do MotoGP, esta alteração pode reduzir os tempos por volta em 1 a 2 segundos, dependendo do circuito, ao mesmo tempo que promove melhor condução das motos, com uma menor distância entre eixos a dar maior facilidade de inserção em curva (um dos problemas, por exemplo, da Ducati) e uma condução mais suave.

Claro que o MotoGP não é estranho a alterações na cilindrada. Em 2002, os lendários motores de 500 cc a dois tempos foram substituídos pela introdução de motores de 990 cc a quatro tempos marcando uma revolução tecnológica.
Em 2007, a cilindrada desceu para 800cc para limitar os custos, mas regressou aos 1000 cc em 2012 por razões comerciais, aproximando as motos de competição das que estavam disponíveis para os clientes- ironicamente, como as SBK.
A escolha de 850cc para 2027 é um compromisso que equilibra performance e sustentabilidade, aproximando as motos das super-desportivas de produção, algo que as marcas podem aproveitar para campanhas de marketing direcionadas.

Para uma empresa como a Pirelli, fornecedora oficial de pneus desde 2027, por exemplo, o regresso a uma cilindrada mais “acessível” oferece uma oportunidade para promover pneus de alta performance para motos de produção, enfatizando como a tecnologia derivada do MotoGP melhora a segurança e a experiência de condução em estrada.

Sustentabilidade em primeiro lugar: combustível 100% sustentável
A partir de 2027, todas as motos de MotoGP utilizarão 100% combustível sustentável, um avanço em relação à mistura de 40% de combustível não-fóssil introduzida em 2024. Além disso, a capacidade do depósito será reduzida de 22 para 20 litros para as corridas tradicionais e de 12 para 11 litros para as corridas Sprint, incentivando as equipas a otimizar a eficiência do combustível.
Este compromisso com a sustentabilidade reflete o crescente foco global no ambiente, uma questão crucial para as empresas que pretendem reforçar a sua imagem de RSC (Responsabilidade Social Corporativa).
A transição para combustíveis sustentáveis começou com a FIM, a Associação de Fabricantes de Motociclismo (MSMA) e fornecedores de combustível a trabalhar para desenvolver misturas que mantivessem um elevado desempenho sem derivados de petróleo.
Este esforço está alinhado com o objetivo da indústria automóvel de migrar para os combustíveis sintéticos até 2035, tornando o MotoGP pioneiro no desporto automóvel.

Aerodinâmica limitada
A utilização da aerodinâmica, que transformou as motos de MotoGP em verdadeiros “mísseis sobre duas rodas” nos últimos anos, vai sofrer uma redução significativa. A largura da carenagem frontal será reduzida em 50 mm e o bico será recuado 50 mm, limitando o efeito aerodinâmico de compressão da dianteira em retas e em travagens.
Além disso, os apêndices aerodinâmicos traseiros estarão sujeitos a homologação, sendo apenas permitida uma atualização por temporada para manter os custos baixos. Estas alterações irão incentivar ultrapassagens mais frequentes, tornando as corridas mais espetaculares e imprevisíveis.
A aerodinâmica tem sido uma das áreas de maior inovação nos últimos anos, com a Ducati e a Aprilia a liderarem o caminho com soluções como asas e spoilers. No entanto, a excessiva dependência da aerodinâmica tornou as motos mais difíceis de ultrapassar devido ao “ar sujo” gerado, um problema que as novas regulamentações visam resolver.
Esta mudança traz o foco de volta às capacidades dos pilotos, algo que entusiasma os fãs e valoriza o talento humano em detrimento da tecnologia.
A partir de 2027, todos os dispositivos de variação de altura (dispositivos de altura de condução e holeshot) serão também proibidos. Estes sistemas, que permitem que a moto seja rebaixada no arranque ou durante a aceleração, aumentaram a segurança, mas também uniformizaram o desempenho, reduzindo a margem para a habilidade individual… e na fase de desenvolvimento inicial, criaram por vezes controvérsia, com problemas e mesmo quedas.

A sua eliminação significará que os pilotos terão de confiar exclusivamente na sua técnica, tornando as partidas e as fases da corrida mais imprevisíveis.
O rebaixamento dianteiro, introduzido pela Ducati e posteriormente banido em 2023, foi um dos exemplos mais controversos de inovação tecnológica. A sua remoção, juntamente com a remoção dos dispositivos holeshot, poderia trazer de volta o espetáculo das partidas “clássicas”, onde pilotos como Valentino Rossi brilhavam na sua capacidade de lidar com cavalinhos manuais.

Luigi Dall’Igna, engenheiro-chefe da Ducati, trouxe muitas inovações à MotoGP
O sistema de concessões, introduzido em 2023 para equilibrar a concorrência entre marcas, será igualmente atualizado. Todos os fabricantes iniciarão a temporada de 2027 na Faixa B, com uma reavaliação a meio da temporada com base nos resultados.
Os novos participantes, com a possível entrada da MV Agusta ou da BMW, beneficiarão da Faixa D, com mais motores e testes disponíveis.
Além disso, os dados de GPS de todos os pilotos serão partilhados entre as equipas, promovendo a transparência e ajudando as equipas menos competitivas a melhorar.
A ideia de partilhar dados de GPS é revolucionária, para um desporto tradicionalmente zeloso da sua própria informação.
Esta abordagem não só nivela o campo de jogo, como também fornece aos patrocinadores conteúdo técnico exclusivo, como análises em tempo real das trajetórias dos pilotos, que podem ser utilizadas para envolver os fãs.
O futuro é empolgante e tudo vai mudar em 2027… falta resolver como diferenciar as SBK, com uma redução de 2 segundos na maioria das pistas a colocar as MotoGP ao mesmo nível de uma SBK de topo… mas isso fica para outro artigo!
















